Thursday, June 29, 2006

Fases

Deve ser triste quando se chega à fase em que o único crescimento que se sente é para os lados...

Thursday, June 22, 2006

E ela, como é?

- E ela, como é?
- Ei pá, de cara não é grande coisa, mas tem um corpo!!!
Em Portugal não há mulheres com émes maiúsculos como nos outros países. Mulheres integrais. As mulheres por cá são constituídas por duas partes perfeitamente distintas: A parte topo e tudo o resto – é como os estádios de futebol; A cara e o corpo. Sendo que o corpo, e dentro do corpo alguns dos seus apêndices, vem tomando, cada vez mais, a dianteira de relevância no conjunto.
De entre todas as respostas possíveis à minha pergunta inicial, o esquartejante, ou a versão “vamos por partes” à lá Jack Estriador, do “Ei pá, de cara não é grande coisa, mas tem um corpo!” é, no entanto, das mais sincerazinhas. Quando os meus amigos Tugas me respondem assim conseguem prender-me a atenção nas suas façanhas por uma boa carga de minutos.
Verifico que a honestidade da resposta à minha pergunta é directamente proporcional ao número de partes em que conseguem dividir a mulher sistémica. Isto é, um “Ei pá, de cara e de corpo não era por aí além, mas tinha umas mamas!” é muito mais sincero que a primeira resposta em que a divisão da mulher se dá apenas em duas partes: Cara e corpo. O “Ei pá, não era grande pomada nem de cara nem de corpo mas digo-te, grandes pára-choques dianteiros e traseiros!” divide a mulher em quatro e faz-nos acreditar ainda mais na sinceridade de tal mote.
O pior é que as respostas que me têm saído na rifa não têm tido nada de sincero, rasando demasiadas vezes os limites mais baixos da desonestidade. Por exemplo, o “Ei pá, é perfeita!” ou a versão cúmulo da perplexidade do “Ei pá, eu nem te digo!”, faz-me parar, desconfiar e atacar. O “perfeita” é demasiado óbvio: Não há mulheres perfeitas! O “Eu nem te digo!” impele-me a reagir: O tanas é que não dizes!, penso. Ainda eles não acabaram de abrir os olhos e de endireitar a cabeça, postura recorrente de quem pretende dar ênfase ao “Eu nem te digo!”, e já eu lhes atiro com a minha convencional sentença: Mas… e então?
O “mas… e então?” arruma sem mais remessas com todas as questões, contudo há que ter algumas reticências na sua aplicação. Isto é, o “mas” e o “e então?” não fariam sentido sem as reticências. O segredo do seu sucesso está mesmo na precisão do impasse que lhes conseguimos aplicar: Devemos dizer o “mas”, parar alguns segundos, 1.4 segundos para ser rigoroso, e continuar com o “e então?”, dando um pequeno jeito na cabeça para o lado esquerdo (Já tentei para o lado direito mas não funcionou), como quem diz “vamos lá, despacha-te e conta logo tudo!”. Durante toda essa fase do “mas… e então?” não devemos descorar que o nosso olhar deve estar fixo e seguro no olhar do nosso interlocutor. Essa postura deixa os nossos amigos entre a espada e a parede e provoca a resposta desde logo esperada: “Ei pá, não aconteceu nada mas da próxima vez não me escapa!”
Nestes casos nunca insisto. Não insisto com indivíduos já prostrados pelo chão. Não vale a pena! Não aconteceu mesmo nada. Sempre que me respondem com um “mas” fico com a perfeita consciência de que sinceridade maior seria inatingível.

Friday, June 16, 2006

dragon ball

Sintra, Portugal, 2006
Há um dragão na serra de Sintra

Friday, June 09, 2006

Os meus jogos

Não se pense que não existe correlação alguma entre os jogos que ocupavam as infâncias da minha geração e o estado socioeconómico deste meu país. Não só existe essa correlação como a sua formalização é perfeitamente estável. Vamos lá ver:
Os jogos do Espeto ou do Prego, da Malha feita artesanalmente em pedra, e todas as variantes que exigiam alguma perícia, são os que devem ser incentivados pelo Estado. As crianças que foram aficionadas nestes jogos são hoje excelentes chefes de família, têm 2 ou 3 filhos, estabilidade económica, um carro e uma casa luxuosos, uma mulher asquerosa mas excelente doméstica. São bons contribuintes. O futuro mais normalzinho deste país depende destes senhores e da sua descendência.
O jogo do Pião na altura existia individualmente. Exigia inteligência e a sua perícia não era simples como no jogo do Espeto. Havia uma agressividade estratégica no quebrar dos piões concorrentes. As suas regras dependiam da inspiração do momento. Os seus aficionados, retirando os que enfeitavam os piões com pioneses e outras mariquices, são hoje solteirões e “bons vivan”. Têm um carro e uma moto desportivos, um pequeno iate, vivem num condomínio luxuoso. Têm charme. São solteiros pela fatalidade da sua própria estratégia. Não vão deixar qualquer descendência e se deixarem ela acabará por definhar no seguimento do exemplo dos próprios pais.
Os jogos do Moche, da Estátua e de todas as variantes que requeriam robustez física e nenhuma inteligência, produziram o que hoje caracteriza quase metade da população masculina portuguesa. São os portugueses machos no seu alter-ego e broncos para quem os vê por fora. Gostam de futebol, cafés, cervejas e pancadaria. Vestem gangas e cabedais pouco convencionais. Carecos, na sua pluralidade. Continuam solteiros porque ninguém os quer. Abandonam os filhos com um telemóvel nas mãos e com uma bola nos pés. Esses filhos que já fumam ganzas e engatam miúdas por SMS e usam um brinco na orelha igualzinho ao do Cristiano Ronaldo e sabem de cor todos os modelos e cilindradas de carros. Eu, se fosse Estado, decretava a laqueação testicular a estes senhores para não permitir que a sua “pluralidade” se espalhe em demasia.
Quem jogou ao Lenço ou à Cabra Cega é hoje casado e homossexual. Tem um casal de filhos que não suporta e uma mulher que até é jeitosa mas que lhe passa completamente ao lado. Mantém o casamento como o disfarce perfeito para a sexualidade que quase não pratica ou admite. A pressão que a sociedade exerce sobre estes senhores determina e condiciona completamente as suas vidas. Não se podia esperar grande coisa de homens que em algum momento da sua vida se deixaram tratar por “Cabra” e ainda por cima “Cega” ou que, como meninas, entraram em joguinhos de lenços.
Os jogos do Elástico, da Macaca, da Patela, e todos os que exigem sincronização e alguns passos de dança produziram todas as bichonas que vamos vendo assumirem-se. Aqueles passos de dança tentando abafar o elástico, os saltos ao pé-coxinho, e a sincronia do abrir e fechar de pernas ao som de cânticos rítmicos já de si estranhamente expressivos, condicionou-os, ou os jogos é que foram condicionados e modelados por eles. Estes senhores, se estão ligados à arte, é à arte da agulha e do dedal no tecido, mais nada. Têm um cão e acabarão por conseguir adoptar uma criança ou duas.
Jogar à Carica ou ao Berlinde poderia ser comparável ao jogo do Pião na produção de homens, mas não o é. O papel que as mulheres vêm a assumir nestes dois espécimes é determinante para a sua diferenciação. Os gajos das Caricas é mais máquinas: Motas, carros, barcos. São solteiros porque casar implicaria abdicar de todas essas materialidades. Para os do Pião as mulheres assumem um papel cimeiro. Não casam até encontrarem uma que lhes toque os 7 instrumentos. São prisioneiros da própria estratégia.
Os Cubos Mágicos e os Yo-Yo já naquele tempo caracterizavam os betinhos. E não há muito mais a dizer sobre este tipo de pessoa. Hoje são aquilo que os pais quiseram que eles fossem e, por isso, não são bons em coisa nenhuma. Os que conseguiram a muito custo e cunha chegarem a economistas, advogados, médicos, têm sempre um coeficiente comum: A mediocridade.
No meu tempo apareceu ainda o Spectrum que quase destronou tudo o resto. Muitas cassetes do Marco Paulo e dos Abba foram sobregravadas com os jogos da época. Os filhos dos homens que se deixaram tocar pelo Spectrum são hoje os pequenos “nerds” dos computadores. Usam lentes de contacto e aparelho nos dentes. Têm o cabelo tombado à direita cobrindo-lhes um dos cantos dos olhos.
Para que não haja confusão, e não querendo de forma alguma impor o meu cunho nesta análise já de si enfadonha e longa, resta-me terminar assumindo uma saudade tremenda do meu pião!